12 de novembro de 2013

Poesia Não

por Junior Bellé

De onde vem a poesia contemporânea? Sei que desce o asfalto, bebe tragos demais e tanto faz o berço como o ensejo, penso, é o que trará. Sei que está pendurada no varal de fibra ótica balançado por vendavais de informação. Sei que está. Aprendiz de poeta, cala a boca, pois em “Poesia É Não”, Estrela Ruiz Leminski te convida a combinar versos, que podem ser livres, construindo poesias que não. Perdão.
Não sou um investigador de métricas, a álgebra da poética me escapa, mas reconheço um sincero apreço quando Estrela brinca com as rimas de seu pai, e também com as de José Paulo Paes, como brinda a simplicidade com uma chance. Empresto seus versos, ela edita – mas não é inédita – o mistério que nenhuma herança literária não pode revelar. Nem sina, nem lema. Ela prefere a plebe dos verbetes.

Este é um livro que pode te apanhar.

A cada página pesa-se o peso que Estrela dá à forma. Não se trata de uma preocupação parnasiana, mas do que se pode ler sem palavras, do traço que se compõe, estrutura cujo abrigo é um verbo ilegível e analfabeto. Não reivindico originalidade em atentar à moldura e disposição da poética, tampouco descarto o clichê como designer da contemporaneidade, mas peço que se perca o pudor, do original, do clichê, do contemporâneo, quando estes todos se fodam entre todos. Estrela deixa a poesia ser. Antes de qualquer coisa, que seja.

Leia esta obra pensando no que virá, em como o tempo pode amadurecer o fluxo natural do versejar na poetiza, pois, como escreveu Marília Kubota

O jargão intelectual não interessa para a maioria dos mortais. A maioria silenciosa, ao contrário do que pensam os críticos, ama a poesia — ama ouvir canções populares, por exemplo. A maioria silenciosa ama escrever versos, na adolescência cronológica ou tardia. E a maioria silenciosa se envergonha de amar a poesia, quando o crítico se levanta em nome do cânone literário e prega que é preciso ter vergonha por amar poesia e escrever bobagens que qualquer um escreve quando o coração dispara.

Eu não sei o que é que há, poesia não é útil, mas é preciso poetar. Por isso, é bom perceber que da Estrela os versos ainda seguem sem medo de se mostrar. Caso busque algumas páginas de emoção, surpreenda-se com o que vai te emocionar.