11 de novembro de 2013

Entrevista com Gustavo Faraon | Ed. Dublinense

Conheci a Editora Dublinense, meio que sem querer. Assim como outras editoras a Dublinense é uma editora independente, que começa a ter uma ampla divulgação entre os escritores estreantes. A Dublinense vem recheando o seu catálogo com os mais diversos gêneros, seja ele romance, poesia ou um texto mais acadêmico. Com mais de 50 livros publicados, a editora gaúcha vem recebendo ótimas críticas pelo material de qualidade que vem publicando e pela diversificação entre os seus autores, tendo publicado, por exemplo, Gustavo Nielsen, escritor argentino. Em conversa com um dos editores, Gustavo Faraon, pude saber um pouco mais sobre a Dublinense e divido aqui com vocês.

NM – Gustavo, como nasceu a Dublinense?

GF – Na verdade foi uma ideia do Rodrigo Rosp. Nós havíamos trabalhado juntos alguns anos antes e ele foi me procurar um dia com a ideia. Foi simples assim.

NM – E o começo, foi difícil abrir uma editora independente?

GF – Foi difícil e é ainda hoje MUITO difícil. O que fazíamos no começo era ter outros trabalhos paralelamente. Depois de algum tempo, conseguimos equilibrar as coisas e nos dedicar exclusivamente à editora.

NM – A Dublinense, em 4 anos de vida, já possui mais de 50 livros em seu catálogo, em gêneros diversos, porém o conto é o mais valorizado, o que faz vocês escolherem uma obra para publicação?

GF – Não é uma ciência exata. Você nunca sabe qual o livro que vai acontecer. Portanto não há uma resposta muito clara pra sua pergunta. Qualidade literária, o perfil do autor e muitos outros detalhes, além de um sentimento do editor de que o livro vale a pena - um sentimento que na maioria das vezes não é de todo racional, é bem difícil de explicar mesmo.

NM – Muitos dos escritores publicados pela editora são do Rio Grande do Sul, isso está relacionado, de alguma forma, com a valorização do escritor gaúcho?

GF – Na verdade isso é fruto de sermos gaúchos, termos começado no RS, e da maioria dos nossos contatos serem também do estado. Então é uma coisa natural que a maioria dos bons escritores que conhecemos sejam do Rio Grande do Sul. Isso vai mudando à medida que vamos circulando mais, que a editora vai ficando conhecida também em outros lugares. Não há uma preocupação quanto a origem dos autores. Não é isso que nos importa.

NM – Como vocês percebem a valorização das editoras independentes? Qual a importância delas, hoje, no mercado editorial brasileiro?

GF – O que consigo ver é uma explosão de novas pequenas editoras. Mas tenho minhas dúvidas se todas elas são percebidas e valorizadas da mesma forma, acho que não. A importância das pequenas, além da questão da bibliodiversidade, é que normalmente são elas que acabam arriscando mais, tentando fazer algo diferente ou radical ou do avesso ou de uma maneira mais louca e livre. E também é muitas vezes através delas que novos autores conseguem se projetar.

NM – As grandes editoras, aparentemente, têm medo de publicar autores estreantes, ficando a cargo das editoras pequenas, como a Dublinense. Você acredita que, de alguma forma, a força que as editoras independentes vêm criando, com a ajuda da LIBRE, pode contribuir para que as grandes editoras mudem a sua maneira de pensar e agir?

GF – Olha, acho que não. E não acho que as editoras grandes têm MEDO de publicar estreantes, não seria justo dizer isso. Eventualmente elas publicam sim. Talvez o fato seja que as grandes NÃO PRECISAM fazer isso, não precisam apostar tanto assim, elas têm condições de publicar autores mais tarimbados e já testados - mas nem isso é garantia de resultado, como sabemos. Então acho natural que o funil para os estreantes em editoras grandes seja mais apertado.

NM – A distribuição dos livros ainda é um dos maiores empecilhos às pequenas editoras?

GF – Sim, ainda é uma grande dificuldade. O sistema de distribuição de livros no Brasil é bastante precário. De maneira geral, as grandes redes funcionam razoavelmente bem, mas é um pouco difícil quebrar a desconfiança inicial deles com uma nova editora independente, o que é algo que me parece até natural. Há redes regionais que são mais fechadas e difíceis de lidar. Mas a verdade é que são lançados muito mais livros em um ou dois meses do que qualquer grande livraria poderia absorver em um ano inteiro, por isso os livreiros e distribuidores são tão reticentes a aceitarem os lançamentos de novos editores, algumas vezes. E a questão logística é outro desafio enorme num país com essas dimensões.

NM – O que fez você se tornar um editor?

GF – Sempre gostei dos livros, mas nunca imaginei efetivamente trabalhar com eles até surgir a oportunidade. A chance apareceu e eu a agarrei.

NM – Como tem sido a recepção dos leitores?

GF – Creio que bastante positiva. O mais legal é quando um leitor escreve pra gente elogiando um livro e pedindo que encaminhemos alguma mensagem para o autor.

NM – A Dublinense pensa em expandir o catálogo publicando traduções de escritores latino americanos, principalmente?

GF – Já fazemos isso. Publicamos “A outra praia”, romance do argentino Gustavo Nielsen vencedor do Prêmio Clarín 2010. E estamos cada vez mais atentos a títulos interessantes de fora do país que possamos traduzir.