29 de março de 2017

A poesia de Iago Passos

tenho pensado aqui é meio inóspito
pra poesia o poema já não interessa
ainda assim riscar aqui o que não se
seria talvez uma chance ao acesso
ao erro

tenho pensado em reflexos de luzes
nas janelas dos ônibus esses pêndulos
de uma cidade a outra os postes
pintando um céu invertido meu corpo
derramado e torto chacoalhando

tenho pensado em flertes via reflexos
e vejo que adoro o jogo do desejo dissimulado
tenho pensado em como ser sincero
sem ser absurdo
ou inóspito
ou em como não assustar o poético

mas meio áridas as minhas planícies
me chamaram árvore velha fruto novo
seco por fora suculento a quem se atreve
tronco acima, casca adentro

 

*

 

da memória dos corpos
que dormem

amanheço
de muitas vidas

os fantasma avôs
tremem os músculos

eu
encruzilhada de tempos

na noite os esquecidos
vadiam seus mil nomes

de outras angolas
vago pelo antes do início

 

*

 

no reflexo o corpo recusa
o que chega de assalto

meu irmão de onde vem
a raiva nos teus olhos não é tua

um caboclo já me disse
guardo muito bem a frente
atrás é que dou vacilo

& quando o ar escapa a guarda abre
(resfria &respira rapaz / não rasga a cicatriz)

: voo de cara
travesseiro de concreto

não há carne quente que dê conta
do pavio curto de tempos molotovs

nem sinto
o instante raspando a pele