13 de abril de 2016

A poesia de Edson Cruz

EDSON CRUZ (Ilhéus, BA) é poeta, editor do site Musa Rara (www.musarara.com.br) e coordenador de Oficinas Literárias. Graduado em Letras pela Universidade de SãoPaulo - USP. Seu livro mais recente de poemas, Ilhéu (Editora Patuá, 2013), foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom de 2014. Antes, lançou Sortilégio (poesia), em 2007, pelo selo Demônio Negro; como organizador, O que é poe-sia?, pela Confraria do Vento; em 2010, uma adaptação do épico indiano, Mahâbhârata, pela Paulinas Editora. Em 2011, ganhou Bolsa de Criação da Petrobras Cultural e editou o livro Sambaqui, pela Crisálida Editora.

 

ORAÇÃO

Para Donizete Galvão

 

Ficamos atentos
aos ritmos,
aos movimentos
às bordas da mata.

Fiquei atento
as suas falas
aos seus escritos
que só dizem
o necessário.

Fiquei atento
aos pontos luminosos
de sua biografia lavrada
em páginas alvas.

Ainda estou atento
aos frutos tardios
que despencam
sobre nossa ignorância.

Muitos ficarão atentos
aos rizomas
que se tramam
em seu texto.

Os poetas sabem,
comungam da religião original
da humanidade.

A atenção
é nossa forma natural
de oração.

 

***

 

A dança das imagens entre as palavras.
A viagem de volta ao desconhecido.
Aquilo que concerne ao cerne do ser.

A linguagem dos pássaros sem voz.
A hesitação sem a redenção do êxito.
O enunciado do ser travestido em vocábulos.

A ordem do ente na desordem dos seres.
Emoção recuperada no deserto da história.
A ação e o efeito de fingir-se sendo.

Parcas arrependidas uivando pela vida.
Desígnio de deuses esquecidos.
A pureza selvagem do espúrio.

Tudo o que se perde com a conceituação.
O que seria isso senão a poesia?

 

***

 

Preencher com o ser
o vazio do eu.

Com palavras,
o branco das páginas.

Com o silêncio,
o falatório do mundo.

Com ações,
a carência dos seres.

E depois de tudo,
desaparecer.

 

***

 

DESPERTAR

A busca principia
e se finda no coração.
Na longa jornada
dia a dia se oficia.
No limite, nos brinda
com a iluminação.
Ou não.