30 de março de 2016

A poesia de Bruna Kalil Othero

BRUNA KALIL OTHERO
nasceu em terras belorizontinas, na primavera de 1995. Publicou, em novembro de 2015, seu primeiro livro, “POÉTIQUASE”, pela Editora Letramento.

 

DELÍRICO
Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira

escrevo poemas como quem bate
na porta
perguntando
timidamente
se pode entrar

escrevo poemas como quem bate
no peito
tentando arrancar dali
uma veia do coração
sangue venenoso

escrevo poemas como quem bate
palmas
estupefata de ver
um filho meu
grudado no papel

e esse êxtase todo esse delírio
me excitam
quando rodo a maçaneta

escrevo poemas como quem bate uma punheta

 

DE VERÃO

nosso amor é um castelo de areia
que nós
persistentes
munidos de pás e baldes
plásticos
lutamos pra construir
no terreno movediço
desta praia

e ele fica lindo
imponente
com janelas grandes alas
salões de festa
bandeiras

tudo isso
pra no fim do dia
o mar vir
de inveja ou solidão
e derrubá-lo
no glamour aquático
do caos

o pouco que fica
além da vaga memória arquitetônica
é um grão de areia
persistente
na calcinha do meu biquíni

TEMPO

vejo ao longe
aquela mulher decadente
com o rosto gasto
as mãos gastas o pescoço
e o ar de
já foi bonita

alcanço-a
caminhamos lado a lado
ela me olha
fixa
eu pisco

passo na sua frente
com o passo
trêmulo consciente

amanhã
serei eu
a decadência

CONFUSÃO MIMÉTICA
eu não sou eu
Sebastião Uchôa Leite
este eu
que está aí
pomposo cheio de si
se querendo todo achando
que é o rei da cocada preta
este eu
não sou eu não
viu?
juro que eu
– eu de verdade –
eu sou ótima
conversada despojada
e no máximo
princesa dessa cocada

VALSA

por não me tocares
quaisquer esboço passo vaga intenção
(ligeiros que sejam)
já me estremecem
todo

e quando me encontro em tuas mãos
aberto tonto
rodopio
desfaleço

entendendo tua sutileza instrumental
rítmica
eu
já bailarino
dou dois passos pra trás
– te chamando –
e tu
séria sublime
notas:
na destreza inerente da pianista
me tocas