28 de janeiro de 2016

Editar e ser editor: gênese

Nem todo autor conhece um editor. Na verdade, isso meio que não tem tanta importância, desde que você tenha ao seu alcance amigos que sejam sinceros e cheguem a lhe dizer que o que você escreve merece ser refeito do zero ou que realmente você tem que modificar várias partes do seu texto. A sinceridade deve ser uma ferramenta presente ao redor de qualquer escritor, e deve ser a principal do editor.

Não passa na cabeça de muita gente ser editor. O melhor mesmo é ver o livro publicado, aquele que ficou anos escondido na parte de cima do guarda-roupa, dentro de uma pasta amarela com as páginas já quase mofando. Publicar é o que muita gente quer. E, além disso, vender livros, ter seu livro lido por inúmeras pessoas e vê-lo, certamente, nas estantes das maiores livrarias do país. Isso sim é que é o bom da vida. Não é, mesmo?

Mas para publicar, penso eu, é interessante que se tenha alguém por trás da produção do seu livro, a quem ainda chamamos de editor. Se o bom da vida é ter o livro publicado, o que seria então adjetivado para aquele que criva o pensamento no seu texto antes que ele chegue até o leitor?

Eu não busquei ser editor. Primeiro porque eu nem sabia o que era editar, eu nem imaginava que pudesse haver, por exemplo, algum lugar no país em que isso pudesse ser ensinado ou que a edição tivesse uma história assim como a literatura brasileira. Nada disso me foi ensinado ou mencionado em algum momento. Mas, talvez, a edição tenha me buscado como um processo a partir da relação que criei com a literatura, talvez isso também seja só uma maneira de eu querer fantasiar sobre a situação na qual me encontro, tentando deixar tudo ‘mais bonito’, mais desejável aos olhos de quem fica a ouvir a minha história.

Daí, meio que pela vereda do acaso, cheguei até o mundo editorial, meio que sem saber por qual caminho seguir, a quem perguntar e o que fazer. Parecia, de início, que editar livros era segredo, ninguém queria indicar qualquer que fosse o caminho, e eu ficava como a esperar Godot, indo ao encontro de desconhecidos que as redes sociais me apresentavam. E foi assim que encontrei uma das pouquíssimas fontes de como me tornar um editor. De repente, escutei algo como “Abre uma editora”, a frase vinha repetidamente pela ‘boca’ do barbudo paulistano na tela do computador. Eu ria sozinho dessa ideia maluca que um editor 'desconhecido' ao longe tinha a ousadia de me dizer, eu achava que isso era loucura. Criar uma editora? Eu? No Ceará? Melhor não, melhor mesmo ficar a escrever resenhas do que ter que abrir uma editora. Com que dinheiro, afinal?

Então, assim meio que lentamente, me vi lendo os originais de dois amigos que viriam a se tornar editores. Quando percebi, seis meses depois, o primeiro livro editado estava chegando pelos correios; eram duas caixas pequenas, as capas reluziam um amarelo ouro como eu jamais havia visto, era como se eu tivesse agido feito os mineradores, e que agora as joias me chegavam, assim, pelos correios sem perigo algum. A única coisa que eu conseguia pensar era “Tá lindo! Tá lindo! Puta que pariu!”.

Como eu consegui isso? É que isso, de editar, pegou em mim, como o peixe é pegue pela rede ameaçadora do barco pesqueiro. É, talvez seja isso, a edição é uma rede ameaçadora no início. Mas, pensando bem, talvez a edição também possa ser meu próprio barco pesqueiro depois de um tempo.

E, depois de quase dois anos lendo originais, conhecendo pessoas do mundo editorial, em uma conversa pelo celular com um amigo sobre o que seria interessante escrever em uma coluna mensal, eis que a ideia veio, roubada, mas veio. Que tal escrever sobre os editores brasileiros? Tá aí, pensei! Isso daria mote para ótimos textos e aceitei o desafio.

Comecei a pensar então sobre quais teriam sido as dificuldades para os primeiros editores do país. Existiria alguém por aí que sabe quem foram os primeiros editores do país brasílico? O que eles tiveram que aturar, resolver? Será que era realmente agradável, quer dizer, rentável ser editor? Por qual motivo editavam? Eles foram os primeiros donos de navios pesqueiros literários do país ou será que até nisso fomos primeiramente colonizados?

Fiquei impressionado com o mundo que existe, ainda, ao redor do mundo da edição, e também de seus personagens, que é desconhecido dos leitores e de editores. Quem foi Jorge Caldeira ou Ivana Jinkings? De onde surgiu Schwarcz? Olympio, quem era esse José? Quantos autores, feito Lobato, teriam editado livros? As perguntas foram surgindo em meio a aventura que esses bandeirantes literários percorreram. E, agora, o que tenho em mãos são ideias que precisam ser aparadas, organizadas, revisadas, é necessário expor um pouco mais dessa história.

Por isso, em meios às divagações, sempre necessárias, sem um trilho a seguir, de início, vou conhecer algo que não vivi, interligar histórias antigas com atuais, saber de causos que mostrem os bastidores de quem vive do mundo do livro, tentando construir a minha montanha mágica.

Assim, espero que as histórias que tenho pra contar, burilar com os pensamentos que tenho sobre o mercado editorial, possam de alguma maneira conduzir o leitor para algum lugar, que possa ajudar a iluminar decisões, num diálogo constante entre editor, autor e leitor, que são, em absoluto, o tripé que dá sentido a todo o processo de criação por trás do objeto livro.