12 de fevereiro de 2015

Coleção Leve um Livro

O nome já surpreende. Começa falando de Coleção. Não é para olhar, ler e devolver. É para colecionar. O nome também diz para levar um livro, mas você pode levar dois ou mais, se quiser. Os livros são numerados e esse detalhe parece sugerir que a sua distribuição não é uma ação pontual de marketing, cultural ou editorial. São uma coleção e, depois de uns, outros livros serão lançados. Espera-se, dessa forma, que os leitores voltem para buscar novos livros, especialmente aqueles leitores que têm a poesia longe de suas rotinas.

Depois de falarem em coleção ou de sugerir que algo eventual torne-se um hábito, os editores são imperativos: Leve um livro. É pra você. Não custa nada. Eles são os poetas mineiros Ana Elisa Ribeiro e Bruno Brum. Ela, com um pé fincado nas letras e outro nas tecnologias, tem a cabeça antenada a toda ideia que diz respeito à leitura e à formação de leitores. Ele, com um pé na poesia e outro no design, já percorreu o Brasil apresentando suas performances e poemas visuais.

Bruno Brum e Ana Elisa Ribeiro

Bruno Brum e Ana Elisa Ribeiro (Foto: Mauro Figa)

O formato do projeto inspirou-se nos displays para cartões publicitários com jeito de cartões postais. Papéis utilizados para a troca de mensagens foram transformados por algum designer em papéis que vendem produtos e essa readequação de função não passou despercebida para Bruno Brum: se podem vender produtos também podem doar poesia. A partir daí, Bruno Brum convidou Ana Elisa Ribeiro para, juntos, trabalharem a ideia. Além dos dois, Tatiana Perdigão é a artista das capas, que trazem ilustrações delicadas e bem humoradas, enquanto outros parceiros produzem, distribuem e executam a coleção.

Bruno e Ana buscaram e conseguiram financiamento por meio de Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, convidaram 24 poetas contemporâneos de estilos diferentes para participar, selecionaram os textos, criaram um design gráfico para os livros, desenvolveram um site para divulgar a coleção e estabeleceram uma meta audaciosa: espalhar 60 mil livros de poesia pela cidade, ao longo de um ano. E isso tem sido feito. E será reforçado, já que a Coleção já teve sua segunda temporada, com mais 24 poetas, aprovada pela Lei Municipal, em outro edital. A intenção dos organizadores é “insistir até barrarem”. E que não barrem, porque a cidade quer poesia.

Foto de Simone Teodoro

Foto de Simone Teodoro

A cada mês, são lançados dois novos títulos, com tiragem de 2.500 exemplares cada um, sempre um título de autor mineiro e outro de autor de fora. São 5 mil livretos por mês expostos em displays e disponibilizados em vinte pontos de distribuição, parceiros da ideia. O objetivo é espalhar poesia pela cidade, poesia da melhor qualidade e, ainda, desconhecida de um público mais amplo.

Chacal e Ana Martins Marques abriram a coleção com É proibido pisar na grama e Arquitetura de interiores + 2. Poeta carioca, Chacal publicou 14 livros e deu início à Poesia Marginal no Brasil. A poeta mineira Ana Martins Marques publicou dois livros, recebeu o Prêmio de Literatura da Fundação Biblioteca Nacional e foi finalista do Prêmio Portugal Telecom. O paulistano Luiz Roberto Guedes e o mineiro Fabrício Marques deram sequência à coleção, com Almanárquico e O começo de tudo. Poeta, tradutor e letrista, Luiz Roberto Guedes também escreve para o público juvenil e dois de seus livros foram adotados pelo PNBE – Plano Nacional Biblioteca da Escola. O poeta mineiro Fabrício Marques publicou vários livros e foi finalista dos Prêmios Jabuti e Portugal Telecom. A próxima leva de livros já foi finalizada, com Nicolas Behr e Marcelo Dolabela, e, em breve, estará disponível para os leitores.

Mais que uma ideia pioneira, uma atitude altruísta ou uma forma de divulgar poetas contemporâneos, a Coleção Leve um Livro é um mimo oferecido a todo leitor imerso nas leituras diárias do trabalho, das mídias, resenhas e rótulos. Alguns leitores chegam a se sentir desconcertados diante da iniciativa. Olham para o display, pegam um exemplar depois de alguns segundos e leem ali mesmo, devolvendo o livreto para o display. Outros perguntam se podem levar mesmo e outros ainda levam para si e para mais alguém. A maioria dos leitores tem recebido a iniciativa como algo surpreendente e positivo. Um desses leitores, no hall do Sesc Palladium, no Centro de BH, perguntado sobre o que achou da Coleção Leve um Livro, respondeu que “estamos todos acostumados com a cultura do brinde e sempre nos agrada ganhar coisas. Agora, ganhar livro de poesia com direito a mais um, se quiser, isso eu nunca tinha visto. Foi a primeira vez”.

Aos que se interessarem pela coleção e não puderem buscar os livros nos pontos de distribuição, é possível fazer o download das edições no site www.leveumlivro.com.br. O projeto também tem Facebook e Instagram.

Pontos de distribuição:
Café Cine Brasil
/ Café com Letras / Café Palácio das Artes /
Centro Cultural UFMG / Circuito Cultural Praça da Liberdade
/ Livraria Crisálida
/ Livraria Scriptum / Mercado Central
/ Rodoviária de Belo Horizonte / Sesc Palladium.