29 de outubro de 2014

Artesão das Palavras: uma conversa entre amigos

O escritor, tal e qual um artesão, que modela o barro bruto até que se transforme em um bonito vaso, trabalha sob o mesmo princípio: vai municiando-se de um grande conjunto de palavras soltas e moldando-as, até que se transformem em um texto bem-acabado e interessante.
Esta certamente foi a premissa da qual partiu Luiz Valério de Paula Trindade (www.luizvalerio.com.br), autor da obra Artesão das Palavras. Em seu livro de estreia, o escritor paulista reuniu trinta e três crônicas e duas poesias, versando sobre os mais variados temas: do arrependimento ao amor, da felicidade ao envelhecimento, da maternidade ao romantismo. Poucos assuntos ficaram fora da transformação que Luiz promoveu, convertendo palavras soltas e vagas em textos intensos e relevantes.
Os pontos levantados na obra são universais; impossível ao leitor não se identificar com a maneira leve e direta do autor em expor seus pensamentos e ideias. Através de uma simplicidade ímpar, Luiz Valério conseguiu tornar seu livro uma espécie de válvula de escape literária, permitindo que seus leitores, em meio ao caos do dia a dia, parem para respirar e refletir sobre assuntos que são comuns a todos nós – e que geralmente ignoramos, ocupados que estamos em correr sem parar.
As análises e ponderações contidas na obra são agradáveis e sensatas, mesmo abordando temas muitas vezes controversos. Para escrever, Luiz Valério inspirou-se na natureza humana e suas muitas nuanças – que, apesar de serem individuais e intransferíveis, são sempre similares em sua essência. Até por que, no fim somos todos iguais, e sofremos das mesmas angústias, e exaltamos as mesmas alegrias, e trazemos nossas personalidades repletas de labirintos e becos sem saída.
Luiz Valério se propôs, com sucesso, a percorrer estes labirintos e becos, e ali encontrou farto e vasto material humano e social para refletir através de suas crônicas.
Seus textos parecem dialogar com o leitor de maneira amigável e sincera. E embora deixe claro seu posicionamento sobre determinados assuntos, Luiz Valério não se impõe, e mantém aberto um espaço para contestações e divagações, que somente vem a acrescentar e enriquecer o debate. Como em uma conversa entre amigos.
Logo, é impossível não se deixar envolver pela escrita precisa e esmerada de Luiz, que não poupou esforços para tornar seu texto atraente, reflexivo e repleto de informações. Tanto que, ao terminar sua leitura, bate aquela tristeza estranha, que apenas alguns livros são capazes de provocar.
Luiz Valério inspirou-se na vida que vê e percebe para escrever as crônicas que integram o livro Artesão das Palavras. Mas não só em sua vida e em suas percepções particulares, mas na vida que vê e sente em sua volta, e que percebe e apreende das pessoas ao seu redor.
Há, ainda, um detalhe aparentemente sutil, mas que, em minha opinião, confere ao livro um charme estilístico e elegante: ao longo da obra, foram incorporadas imagens coloridas que, de certa forma, casam com os temas abordados, acrescentando aos textos de forma certeira e incisiva.
Por estas razões, é praticamente impossível não se identificar com uma ou com todas as crônicas presentes na obra. E é por isso que o livro Artesão das Palavras é leitura recomendada para todos que, mais do que simplesmente viver, querem tirar da vida reflexões e análises capazes de tornar seus dias mais leves, mais lógicos e mais felizes.
Como um artesão de sua própria existência.

por Jana Lauxen

Jana Lauxen tem 29 anos e é escritora, autora dos livros Uma Carta por Benjamin (2009) eO Túmulo do Ladrão (2013).
Página na internet: www.janalauxen.com