26 de setembro de 2014

Namoros virtuais

 “Ok”.Depois de tudo o que dissera, num desabafo doloroso, num turbilhão de palavras, ouvira apenas isto. Esperava explicações satisfatórias para o término, um motivo coerente que justificasse o súbito fim, e ainda através de uma mensagem em rede social. “Nem sequer um telefonema!” – admirava-se.

Mas os telefonemas tornaram-se cada vez mais dispersos. As desapegadas mensagens por chat, os emoticons que ela tanto odiava, eram parte da comunicação entre eles. Sempre esperava por algo mais, um convite imprevisto para saírem, um “eu te amo” inesperado.

Sabia que era a pessoa mais interessada no relacionamento. Desde o início, tomara conhecimento disso, e doía. Tinha a impressão de que, ao ser a mais dedicada à relação, ficava sobre o poder dele. Perceber que ele demorava horas para responder uma mensagem, às vezes até um dia ou dois, incomodava-a profundamente. Dizia que não tinha tempo, que a faculdade e o trabalho ocupavam-no demais.

“Quem gosta, procura, arruma um tempinho pelo menos para dar um oi, perguntar como está...”, remoía. Não entendia joguinhos psicológicos. Às vezes, imaginava que ele não respondia às mensagens intencionalmente, mas não atinava para o motivo disso. Queria acreditar que era uma forma de fingir que não estava nem aí, de não se mostrar interessado demais. Outras vezes, pensava que ele realmente não estava nem um pouco interessado na relação e, por isso, não retornava as mensagens e telefonemas, dizia que a ligação não havia chegado, que provavelmente houve algum problema com a operadora.

Não entendia o porquê dele não expressar o que sentia ao estar com ela; ao invés disso, publicava em redes sociais onde estiveram e fotos dos dois, com belas frases e letras de músicas românticas. Tinha a impressão de que cada vez importava menos a sua presença, sua companhia, contanto que ela gerasse fotos e frases e postagens em redes sociais, para mostrar aos outros que ele tinha uma namorada bonita, que viajavam para belos lugares, que eram felizes.

E terminou, após oito meses, por meio de uma longa mensagem em rede social. Talvez por não ter coragem de encará-la ou de sentir a dor em sua voz, através de uma ligação. Sem brigas, sem demonstrar que estava incomodado com a relação. “Mas por quê?”, questionava-se insistentemente. Na mensagem ele dizia que não tinha tempo para um relacionamento, que seu dia a dia era muito corrido, que não estava mais na vibe...
E não era a primeira vez que um relacionamento acabava assim. Possivelmente por sair tão pouco, pela timidez e sua personalidade introspectiva, tinha dificuldades em travar conhecimento com pessoas “ao vivo”, e buscava conhecê-las pela internet. Mas nunca dava certo. Constatou que a maioria buscava apenas sexo, parecia ter medo de um compromisso, e preferia manter um relacionamento não definido, que quase nunca evoluía para algo mais sério. Talvez para não perder possibilidades, ficar com outras mulheres, mais bonitas e mais interessantes que ela. Dessa forma, não seria uma traição, já que não estavam “namorando”, refletia.

E cada vez menos entendia os relacionamentos. Um “Topa sair?”, um “Vamos fazer alguma coisa?”, que no início pensava ser um convite para um cinema, uma praia, shopping, geralmente significava um convite para sexo. Um “Talvez”, um “A gente vai se falando”, quando os chamava para sair, poderia ser interpretado como um “Pode ser, se não aparecer alguém melhor ou algo mais interessante para fazer”.

Após o término do relacionamento – o mais longo até então –, chegou à conclusão de que não queria mais se relacionar com ninguém, que as incontáveis tentativas mostraram-se sempre frustradas, que o “juntos para sempre” era coisa do passado, do tempo dos pais e avós, dos filmes românticos e contos de fada. Em seu quarto, no escuro, iluminado apenas pela tela do computador, sem ninguém para ver as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, compreendeu que teria que aprender a ser feliz sozinha, lidar com a solidão. Desiludida, via-se no futuro: velha, sozinha, na casa cheia de gatos, o dia inteiro vendo TV. Mas havia alternativas, havia como fugir desse futuro? Sim, pensou, existem outras possibilidades...

por Jorge Nogueira