8 de setembro de 2014

Sem importância coletiva (I)

Talvez não ter importância seja o melhor a se fazer ou o melhor a se ser. Talvez a coletividade vise isso, a falta de importância de nós mesmos. Deveríamos começar a nos acostumar a viver na Zona em que vivem os personagens de Daniela Lima, autora de Sem importância coletiva, editado pela e-galaxia. Deveríamos ser apenas um “biorôbo”, sem nos emocionar ou sem nos lembrar como é sentir o nosso próprio corpo.
Fazer perguntas sobre a Zona é não mais sentir, é começar a fazer parte de um modelo quisto pelo Governo, pois só é possível ser herói n’A cidade modelo, pois “A cidade modelo é reflexo de tudo aquilo que o governo queria que representasse o sistema”. Além dela não há nada, “Não há vida”.
Acabando de ler o ‘desconforto literato’, nome que invento agora para poder falar sobre o livro de Daniela Lima, fiquei a pensar, sem sentir o corpo, momentaneamente desligado, tentando fazer relações a outras diversas narrativas e outros diversos pensamentos que tenho comigo acabei me perdendo. E, apesar que digam que é bom se perder, não gosto de estar perdido, não gosto de não sentir por qual caminho devo enveredar.
Esse desconforto há certo tempo não me incomodava. Sem importância coletiva mexe com temas que me são caros e que acredito terem mudado minha maneira de entender o mundo, a partir de leituras de livros como 1984. Não sei o livro foi baseado em distopias, como a de Orwell ou Zamiátin, mas a verdade é que sofro ao ler livros assim.
Ainda assim, em meio a narrativa de como vive a cidade modelo, de como está instaurada a Zona e os homens, serão mesmo homens?, na cidade modelo, a escritora, ao mesmo tempo, está inserida nele como alguém que também não possui alguma importância coletiva. Assim como a repórter chegará o momento em que ela não sentirá nada e se transformará em um monstro “capaz de dar corpo ao que antes era vazio”. Porém, o vazio de antes talvez seja o preenchimento que vivemos agora, e eu não sei.
Esse texto deveria ser para tentar esclarecer essa obra, mas acredito que ainda estou tentando me descontaminar da leitura deste livro. Espero que a contaminação da escritora sem importância coletiva não tenha ainda viralizado e chegado aos leitores ou críticos de sua obra. O que sei apenas é que ler o livro de Daniela Lima é estar perdido, e sentir, ainda, a necessidade de o reler e talvez o reler e o reler, como se fôssemos o visitante que vai até a Zona e que, talvez, não possa mais ir embora. Talvez fiquemos presos à leitura de Sem importância coletiva e assim fiquemos, por alguns anos, até que sejamos enterrados vivos. Afinal, viver é simples, como a leitura de um livro.