5 de setembro de 2014

Estrelas

 

Hoje assisti a um filme, oriundo de um livrinho da capa azul e que, lembro-me bem, espantou-me à primeira lida em seu título, pois simplesmente colocava a culpa em astros que nada podem fazer para se defenderem. Retratava o amor de dois jovens, ambos doentes. Um pleonasmo? Talvez. O amor é uma doença - perigosa. Deixa de cama, com dores no peito e indisposição. Em seu processo de evolução, pode maltratar ou mesmo matar. Aqueles dois jovens foram covardemente traídos pelas brincadeiras da vida, mas, como os mesmos entenderam, viveram um infinito (particular) juntos - e há uns infinitos maiores que outros, é verdade. O filme causou-me por vezes desconfortos, nós na garganta e um aperto no peito. Identifiquei-me com a doença sentimental sofrida pelos dois. Não parei de imaginar um certo alguém me dando a mesma notícia que Gus deu à Hazel, deve ser di-la-ce-ra-dor.

Por vezes quis abdicar-me por completo do amor, visitá-lo apenas nas páginas de ficção, onde a idealização toma as rédeas da narrativa e eu apenas observo. Talvez porque hoje amo houve tamanha identificação, e por mais de uma vez o amor me chamou, e em todas elas eu fui, igual a um cachorrinho atrás do osso, receoso de pancadas fortes, cuidadoso, sendo mal compreendido, gostando apenas de quem me admira de longe, não me deixa amar de perto. Fernando Pessoa dizia que "todas as cartas de amor são ridículas, ao contrário, não seriam cartas de amor". Não me arrependo de nenhuma que enviei, todas as que enviei a apenas ao caso que tive certeza ser amor, ao que tenho certeza amar. Quando ele chega o mundo para e o ar fica em suspensão; o tempo parece se render a nós e não quero ver outra coisa senão teus olhinhos infantis, teus cachos - negros. Saí daquela sala de cinema tendo a certeza de que teu beijo será o meu infinito, que valerá as mil possibilidades de números que há entre um e dez.

Arrisco todas as minhas fichas sem pensar meia vez, porque paixão não se explica, e quando ela vira amor, não se entende. Prefiro as declarações de agora, sem culpar nada nem ninguém, nem mesmo a ti, e se eu partir amanhã, virar estrela, parto feliz, pois não guardei para mim um sentimento que tu, que amo e desejo, precisavas saber, e não me acompanhará o dilema de Manuel Bandeira: "uma vida inteira que poderia ter sido e não foi."

Okay?

Okay.

 Por Júlia Sá