28 de janeiro de 2014

Das boot

O filme se inicia.
O som de um sonar submarino apita... é o som da derrota alemã.

“La Rochelle, França. Outono de 1941. A alardeada frota de submarinos alemães com a qual Hitler esperava vencer a Inglaterra começa a sofrer seus primeiros revezes. Os cargueiros ingleses agora avançam pelo Atlântico com contratorpedeiros-escolta mais fortes e eficientes causando muitas baixas nos submarinos alemães. Todavia, o Alto Comando alemão envia mais e mais submarino com tripulações cada vez mais jovens do porto da França. A Alemanha perde a batalha pelo controle do Atlântico. 40.000 marinheiros alemães serviram na II Guerra Mundial. 30.000 não retornaram”.

Nos instantes iniciais, somos informados sobre o desfecho do filme, contudo, não se trata da previsibilidade da narrativa que devemos nos ater, mas sim como um capitão de um submarino U-96 comandou sua tripulação em confronto com os ingleses na Batalha do Atlântico do Norte, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, sobrevivendo psicologicamente pouco a pouco.

Um filme para poucos, Das Boot é extremamente longo e não aborda especificamente a guerra com bombas, granadas, tiros, decapitações, cidades devastadas, corpos jogados ao chão e gritos de socorro. Em Das Boot, a paciência e o estado consciente da tripulação são primordiais, pois a luta pela sobrevivência é em uma guerra psicológica. Os gritos ouvidos são outros: permissão pra passar, permissão pra subir, abram os tanques, lançar torpedo, fechem as portas, submergir rápido, ALAAAARM.

Atualmente, Das Boot é ainda referência para os amantes do cinema, assim, acredito ser pertinente descrever algumas características crucias do filme para entender o porquê de tal fenômeno. Primeiramente, o ambiente em que foi filmado: um submarino. O diretor Wolfgang Petersen (Troia, 2004) preocupou-se rigorosamente sobre como seriam as filmagens. Tendo em suas mãos dois submarinos 100% originais, utilizou um deles para cenas externas e outro para cenas internas, no estúdio. Logo, percebe-se o grande trabalho de toda a equipe que foi filmar dentro de um submarino real, um local onde seria quase impossível ser filmado. Imagine só as proezas que o diretor de fotografia, Jost Vacano, deve ter feito para filmar em tal espaço. Um ambiente que para nós se torna, em vários momentos, claustrofóbico, agoniante, nauseante e até mesmo entediante. Percebemos também como houve a preocupação com a movimentação das câmeras, como a tripulação se movia de um lado para o outro, lentamente, para que fosse possível transformar tal experiência tão real como se estivéssemos assistindo a um documentário sobre submarinos.

O correspondente de guerra Tenente Werner talvez seja a tentativa de representar ao público, em um mundo não experienciado, um novo ambiente que estamos prestes a conhecer. Suas expressões, seus pensamentos e suas anotações talvez sejam o reflexo da nossa surpresa acerca desse estilo de vida sujo, úmido e claustrofóbico.

O refeitório dos oficiais é tão apertado que um membro da tripulação deve dizer: “permissão pra passar, senhor”, enquanto um deles se levanta para que o acesso seja possível. Apenas um banheiro sujo e apertado para 50 homens. Um dormitório para 12 suboficiais tem que ser alternado entre turnos; “Quando o cara volta, dorme com o fedor do outro”, diz um dos oficiais ao apresentar o submarino para o correspondente. Desta forma, o privilégio de uma cama própria será apenas para nós e o tenente Werner.

Não se pode deixar de comentar a presença de cenas tediosas que são mostradas, no entanto, sem perder seu real significado, que seria a triste realidade em que eles se encontram. Como em uma cena em que um dos tripulantes escreve cartas e cartas para sua noiva mesmo sabendo que nada conspira a seu favor na situação em que ele se encontra.


Wolfgang de alguma forma soube como diminuir a tensão com cenas cômicas; enquanto a tripulação se diverte comendo e dançando, um oficial entra no dormitório aos gritos: “PAREM COM ESSE BARULHO”, nos dando uma sensação de tensão e na expectativa que irá dizer algo de ruim, o mesmo diz: “Tenho más notícias... Nosso time está perdendo... 5 x 0... sem chances de ir para as finais”, fazendo com que os marinheiros se revoltem. Tal cena tem o poder de demonstrar como ainda é possível se encontrar fora da inútil guerra que os rodeiam e como a condição humana vai além do simples fato de querer matar inimigos e conseguir ficar vivo. Provavelmente, essa poderia ter sido a última notícia boa de suas vidas.

Possivelmente, uma das cenas mais marcantes do filme é o momento em que o submarino afunda após uma sequência de bombardeio e, como consequência disso, uma inundação que começa a preencher e apavorar a tripulação. Drama e tensão. No entanto, no submarino havia um indivíduo que em qualquer circunstância se encontraria calmo, esse era o Capitão Lehmann, o qual se preocupava apenas em gritar: “Quero relatório dos danos, eu quero relatórios”, enquanto toda tripulação com água entre os joelhos corria loucamente de um lado para outro para consertar tudo que estava danificado.

Talvez a principal característica à qual o diretor refletiu e soube trabalhar de forma brilhante foi não se prender a questões nacionalistas. Diferente de outros diretores, não buscou demonstrar a superioridade e patriotismo de seu país. Não buscou demonstrar vitórias conquistadas ou heroísmo nos respectivos personagens. Podemos ver em diversas situações como seus soldados não foram consumidos pelo fanatismo nazista ou até mesmo afirmar que não são, pois o fanatismo de raça superior mostrada em outros filmes por parte dos nazistas não é tão vigoroso aqui. Como em uma cena em que o capitão ao mandar um de seus oficiais por um disco inglês diz: “um simples disco não vai fazer de você um inglês”, fazendo com que todos ao redor riam. O reconhecimento da superioridade dos ingleses é visto em diversos momentos no filme quando alguém diz que o inimigo pode vencê-los a qualquer hora.

Por sua longa duração e seu grande sucesso na época, três versões foram lançadas. Em 1981, foi lançada nos cinemas sua primeira versão de 149 minutos. Em 1985, foi exibido na TV alemã em forma de minissérie dividida em seis partes, com um total de 293 minutos; existem também informações de que essa versão foi dividida em três partes de 100 minutos cada. Em 1996, o diretor remontou o material no que ficou conhecido como a “Versão do Diretor”, de 209 minutos.

Curiosidade
Hans-Joaquim Krug, o então primeiro oficial do submarino U-219, e Heinrich Lehmann-Willenbrock, capitão do U-96 real, prestaram consultoria para a elaboração do filme.
Premiações
Recebeu seis indicações ao Oscar de 1983, nas categorias:
Melhor direção (Wolfgang Petersen); Melhor fotografia (Jost Vacano); Melhor Edição de Som (Mike Le Mare); Melhor Montagem (Hannes Nikel); Melhor Mixagem de Som (Milan Bor, Trevor Pyke e Mike Le Mare) e Melhor Roteiro Adaptado (Wolfgang Petersen), mas não venceu em nenhuma.

Elenco:
Jürgen Prochnow – Cap. Lt. Henrich Lehmann-Willenbrock
Herbert Grönemeyer – Lt. Werner – Correspondente
Klaus Wennemann – Chefe Engenheiro
Erwin Leder - Johann